domingo, 26 de fevereiro de 2017

Camadas de sustentabilidade


Camadas de sustentabilidade

Em uma das minhas falas, eu defendo que Sustentabilidade é como uma cebola: Tem camadas! As pessoas, os grupos e as sociedades podem ser classificadas em níveis, ou "camadas" de preocupação com a Sustentabilidade.

Podemos pensar da seguinte maneira: 

  1. Camada zero: Nenhuma preocupação. As pessoas que estão nessa camada, acreditam que é um problema do Governo, e nada podem (ou devem) fazer a respeito;
  2. Camada um: Faz o “dever de casa”. Se preocupam em ensinar seus filhos sobre o meio ambiente, e evitam o desperdício de água e energia. Evitam descarte de lixo fora do local apropriado e ensinam isso aos seus filhos;
  3. Camada dois: AtivistasFazem alguma coisa, seja promovendo a “coleta seletiva” de lixo, ou coletando água de chuva, ou mesmo energia solar. Se preocupam e se engajam em atitudes que promovam a melhoria do meio ambiente;
  4. Camada três: Ciclo sustentável. Pensam em produtos e serviços como um ciclo, desde a criação, passando pelo uso até a reciclagem. 






No Brasil, vivemos algo entre a camada zero e um, mesmo nas regiões com maior índice de IDH. Poucas pessoas estão na camada dois e raramente ouvimos falar em camada três. 

Ciclo sustentável

A ideia de um ciclo sustentável é pensar em produtos e serviços de forma circular (http://circulardesignguide.com), considerando as várias fases do Objeto (produto ou serviço) como conectadas:
  1. Estudar como o Objeto pode ser criado, reciclado, reusado ou remanufaturado;
  2. Definir o Objeto dentro dos parâmetros estudados;
  3. Criar/recriar o Objeto;
  4. Liberar para uso;
  5. Após a vida útil, voltar ao passo 1.

O reaproveitamento do Objeto é considerado desde sua criação, incluindo a compreensão do seu ciclo de vida, descarte e reciclagem. 

Um exemplo de ciclo sustentável é o projeto do instituto Dinamarquês AgroTech, que utiliza papel (incluindo reciclado) na produção de garrafas para água mineral e sucos. Estas garrafas, além de recicláveis, são biodegradáveis e rapidamente absorvidas, quando descartadas no meio ambiente (http://www.agrotech.dk/uk/projects/project/greenpack).


Ascensão entre camadas é um processo evolutivo

Sair da camada zero é um passo enorme para uma sociedade, e, no Brasil, estamos nos esforçando muito para universalizarmos a preocupação com a sustentabilidade. A evolução, nas camadas mais baixas, exige muito esforço e paciência, pois significa mudança de cultura. Já, a mudança da camada um (“dever de casa”) para a camada dois ("ativistas") requer menor esforço, basicamente apenas propaganda, pois a cultura do conservacionismo já foi sedimentada entre as pessoas. 

Políticas erradas

Pregar a sustentabilidade é um processo de “evangelização” e requer mudança cultural das pessoas ou da sociedade alvo. Quanto mais baixa a camada, maior o esforço necessário. 

Quer um exemplo? Convencer as pessoas de uma cidade a jogarem o lixo no local apropriado, é uma medida altamente sustentável e muito difícil de ser implementada, não obstante os esforços. Logo, as políticas de sustentabilidade devem considerar o nível evolutivo atual, ou seja, a “camada” atual da população. 

Em uma cidade do interior, um grupo de pessoas criou um projeto, bem sucedido, para colocar lixeiras coloridas (com separação do lixo) dentro das escolas. As crianças passavam a trazer o lixo de casa já separado e jogar nas lixeiras adequadas. Como o Projeto foi bem-sucedido, levaram a ideia para a Prefeitura, querendo colocar lixeiras coloridas nas principais esquinas, com o apoio da iniciativa privada.

Para surpresa de todos, a Prefeitura rejeitou a ideia e mais ainda: Disse que arrancaria as lixeiras, mesmo que fossem pagas pela iniciativa privada. Por que essa atitude?

A explicação é bem simples. Para começar, a Prefeitura tem muito trabalho para limpar e catar o lixo jogado nas ruas. As pessoas daquela cidade estavam acostumadas a simplesmente jogar o lixo em qualquer lugar e pronto! O problema de recolher o lixo é apenas da Prefeitura. Com isso, a Prefeitura já gasta muito dinheiro para recolher o lixo das ruas, logo, não teria como fazer a “coleta seletiva” das tais lixeiras. 

O segundo motivo é que, ao colocar lixeiras coloridas, as pessoas entenderiam que aquele era um ponto onde se poderia jogar lixo. Logo, ficariam cercadas de lixo, jogado em volta delas. A Prefeitura, em Governos anteriores, já havia tentado algo assim.

No exemplo desta Cidade, a população ainda está na camada zero, logo, é preciso tomar ações que mudem a cultura das pessoas, ensinando-as a guardar o lixo para descarte apropriado, evitar jogar lixo nas ruas etc. 

Para populações que estão na camada zero, ações admoestativas são apropriadas, como instituir multa para quem jogar lixo na rua, por exemplo. É uma ação antipática, mas que tem efeito educacional. 

É como o uso de cinto de segurança. Foi preciso instituir multa para que as pessoas passassem a utilizá-lo. 

Antes de correr, é preciso aprender a andar, mesmo em Sustentabilidade. 



Cleuton Sampaio, Mestre em Administração. 

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